segunda-feira, 19 de maio de 2025

Miserylab : Projeto de Porl King ( Rosetta Stone)

 A Death That We Can Cure, Primary, 1 of 9

Depois do fim do icônico Rosetta Stone em 1998, Porl King não desapareceu nas sombras ele simplesmente redirecionou sua energia criativa. Ainda no final dos anos 1990, ele deu início ao miserylab, projeto solo que, por muitos anos, foi mais uma entidade fantasmagórica do que uma banda tradicional. Inicialmente criado como um selo pessoal para remixes e produções (com clientes como o My Vitriol e os premiados Elbow), o miserylab logo assumiria vida própria.

O nome, originalmente grafado como misery:lab, carregava um duplo sentido tanto uma crítica séria à experimentação animal quanto um comentário autodepreciativo sobre o conteúdo melancólico de sua música. Após alguns esboços em 2000 que ficaram engavetados, King só passou a lançar material de fato em meados dos anos 2000, quando a produção de terceiros deixou de ser prioridade.

Em 2005, King ressuscitou o projeto via MySpace, plataforma essencial para músicos alternativos da época. Em 2007, soltou o Vaporware EP, disponível para download gratuito, com arte para impressão  um gesto DIY que ecoava o espírito dos fanzines. 

O primeiro álbum completo, Function Creep, saiu em abril de 2008 e marcou a transição para um som mais post-punk e centrado em guitarras. Apesar da preferência por lançamentos digitais, a demanda dos fãs por edições físicas resultou em uma tiragem limitada em CD. Pouco depois, veio uma versão estendida da faixa “Be There Tomorrow”.

O segundo disco, A Death That We Can Cure, foi lançado em 5 de novembro de 2008, propositalmente no aniversário da Conspiração da Pólvora, com referências políticas e sociais afiadas. A capa exibia um gráfico comparando mortes por terrorismo com as causadas pela fome. O título é tirado de uma das célebres bushisms (frases atrapalhadas do ex-presidente George W. Bush). Em 2009, saiu o terceiro álbum, Freedom Is Work, e, na sequência, uma coletânea na Rússia intitulada Lab Samples, reunindo faixas dos primeiros discos mais a soturna “No Cure For Life”.

O quarto álbum, From Which No Light Escapes, emergiu em fevereiro de 2011. Inicialmente com outra proposta lírica, foi retrabalhado por King para refletir os acontecimentos do turbulento 2010. Com resenhas favoráveis, a obra foi comparada a Joy Division e ao Killing Joke inicial. A revista Glass destacou o amadurecimento do som e a carga de crítica social presente nas letras.

Em maio, o single “Appeal to Fears” apareceu no SoundCloud, com vocais adicionais de Kathryn Woolley  que também participou de “Gods Amongst Your Friends”, lançada pouco depois como faixa avulsa. Em julho, o potente manifesto “Children of the Poor” foi lançado com videoclipe e, semanas depois, os distúrbios civis tomaram as ruas da Inglaterra. A faixa foi até utilizada em uma campanha da loja Schuh, criando um contraste curioso entre crítica social e marketing comercial. 

O quinto álbum, Void of Life, saiu em outubro de 2011 em edição limitada, acompanhado de um remix estendido de “Children of the Poor” e do vídeo de “People”. Com uma sonoridade mais lapidada, o disco rendeu elogios do site Brutal Resonance, que lhe deu nota 9/10 e comparou o impacto emocional da última faixa, “Last Day”, à intensidade de “The Top” do The Cure. O Dominion classificou o álbum como o segundo melhor do ano, atrás apenas do Esben and the Witch.No fim de 2011, mais duas faixas foram disponibilizadas: “five:one one” e “Fear for the Future”.

Em 2012, “Children of the Poor” e “People” ganharam lançamento em vinil sete polegadas, edição limitada a apenas 120 cópias, acompanhadas do EP digital Somewhere Between. No mesmo ano, saiu a compilação Documentary, unindo CD e vinil com faixas de Freedom Is Work em diante, via o selo francês D-monic. 

Porém, 2012 também marcou o surgimento de outro projeto de King: o enigmático In Death It Ends, voltado ao ocultismo e à ambientação sombria. Seu primeiro lançamento, Forgotten Knowledge, saiu em fita cassete  uma homenagem ao misticismo analógico dos anos 70. Com o crescimento desse novo projeto, o miserylab entrou em hiato. 

Em 2019, Porl King resgatou diversas faixas do miserylab e as lançou como Seems Like Forever, sob o nome Rosetta Stone trazendo o passado de volta com nova roupagem. O Rosetta Stone, inclusive, voltou a lançar material inédito em 2020, selando de vez a ponte entre as várias fases de sua trajetória.

 Discografia – miserylab (Álbuns de Estúdio)

  1. Function Creep – 2008

  2. A Death That We Can Cure – 2008

  3. Freedom Is Work – 2009

  4. From Which No Light Escapes – 2011

  5. Void of Life – 2011



 


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Whirlywirld

Whirlywirld, foi um projeto de Ollie Olsen no final dos anos 70 e início dos 80. Surgida no caldeirão criativo de Melbourne, a banda foi a primeira de uma série de colaborações marcantes entre Olsen e o baterista John Murphy, dois nomes essenciais para quem quer entender a trilha mais obscura e eletrônica do underground australiano.

Ollie Olsen começou sua trajetória em 1976 como guitarrista da banda The Reals, que chegou a dividir palcos em salões suburbanos com os The Boys Next Door, banda seminal que mais tarde se transformaria no The Birthday Party. Após sua passagem pelos Reals e pelo breve projeto The Negatives.

Olsen fundou The Young Charlatans, ao lado de Rowland S. Howard, Jeffrey Wegener e Janine Hall um verdadeiro supergrupo embrionário, cujos membros deixariam marcas profundas em outras bandas lendárias como Laughing Clowns, The Saints e os próprios Boys Next Door.Apenas com essa ficha corrida, já daria pra colocar Olsen no panteão dos arquitetos do pós-punk australiano. Mas foi com a Whirlywirld que ele rompeu de vez com as convenções do rock.

Formada em 1978, a Whirlywirld nasceu com uma missão clara: deixar as guitarras em segundo plano e explorar sintetizadores, ruídos, loops e atmosferas eletrônicas, distanciando-se do formato tradicional das bandas punk da época. A formação inicial trazia Olsen (já imerso em “eletrônicos” ao invés de guitarra), Murphy na bateria e percussões variadas, além dos tecladistas Andrew Duffield e Simon Smith, e o guitarrista Dean Richards

Apesar de ensaiarem com rigor, a banda se apresentava ao vivo muito raramente. A estreia nos palcos aconteceu no lendário The Crystal Ballroom em 1979, pouco depois do lançamento do primeiro EP homônimo. Duffield sairia logo após para se juntar aos Models, sendo substituído por Philip Jackson.

Ao todo, a Whirlywirld fez apenas 14 apresentações ao vivo em toda sua existência — mas cada uma delas foi um evento. Mudanças de formação seguiram, com Richards, Jackson e Smith deixando a banda. Entraram Arnie Hanna (guitarra) e Greg Sun (baixo), enquanto Olsen e Murphy mergulhavam ainda mais fundo nas possibilidades sonoras com saxofone, clarinete, loops de fita e percussões eletrônicas

Essa nova fase da banda foi registrada em dezembro de 1979 no estúdio York St., resultando em um segundo EP, novamente autointitulado, lançado em fevereiro de 1980  um verdadeiro artefato sonoro de vanguarda.

Com o fim da banda, Olsen e Murphy seguiram juntos em projetos como The Beast Apparel, Hugo Klang (com performances na Inglaterra e o single Beat Up The Old Shack) e posteriormente na cultuada Orchestra of Skin and Bone. No fim dos anos 80, Olsen encerraria a parceria formando o grupo NO, enquanto Murphy seguiria sua jornada em outras frentes experimentais. 

Ambos ainda voltariam a se cruzar no Max Q, projeto inusitado de Olsen com Michael Hutchence, do INXS  uma colaboração que colocou músicos do subterrâneo lado a lado com o mainstream australiano.Em 1986, Olsen regravou "Win/Lose" para a trilha sonora do cultuado filme Dogs in Space, e a canção "Rooms for the Memory", cantada por Hutchence e originalmente da Whirlywirld, se tornaria um hit nacional em 1987 uma espécie de vingança tardia das sombras sobre os holofotes do pop.

Discografia

Whirlywirld -  ( 1979) Ep

Whirlywirld -  ( 1980) Ep

The Complete Studio Works (1986) Coletânea

 Singles

"Sextronics"/"Eyebrows Still Shaved" (1980)

The Complete Studio Works, Primary, 1 of 4

 

Voigt/465

Slights Unspoken, Primary, 1 of 6

Pouco antes da década de 1980 consolidar o pós-punk como linguagem global, um grupo de jovens australianos estava criando algo singular nos subterrâneos de Sydney. O Voigt/465, ativo entre 1976 e 1979, pode não ter tido o reconhecimento merecido em sua época, mas hoje figura como uma das bandas mais instigantes do cenário alternativo australiano.

Com uma sonoridade que misturava estruturas roqueiras à base de canções com experimentações livres e dissonantes, sua música carregava influências evidentes do krautrock e um espírito genuinamente "faça-você-mesmo".

Formado por um grupo de amigos de escola, Rod Pobestek (guitarra), Lindsay O’Meara (baixo), Phil Turnbull (sintetizador, órgão e vocais), Rae Macron Cru (vocais) e Bruce Stalder (bateria).O Voigt/465 começou seus primeiros ensaios em 1976, e se apresentou de forma esporádica ao longo de 1977. Em 1978, gravaram quatro faixas no Axent Studios, no subúrbio sul de Kogarah, dando os primeiros passos rumo a um legado curto, mas memorável. 

Com a saída de Stalder no meio de 1978, Mark Boswell assumiu as baquetas e a banda passou a se apresentar com mais frequência, ganhando certo culto entre o público alternativo de Sydney. Nesse mesmo ano, lançaram por conta própria o single “State” / “A Secret West”, utilizando duas das gravações feitas no Axent. Tocavam regularmente em casas como o Sussex Hotel, além de viajarem para apresentações em Melbourne, expandindo o raio de influência de seu som desconcertante.

O Voigt/465 foi apontado como a "banda de 1979" por Clinton Walker em Inner City Sound, livro fundamental que documenta o punk e pós-punk australianos. Mas o fim já se desenhava. Com a saída de O’Meara rumo ao Crime and the City Solution, os membros restantes decidiram gravar um último registro: o álbum Slights Unspoken, lançado em edição limitada em setembro de 1979. Mais do que uma despedida, o disco é um artefato raro que captura a tensão e a liberdade criativa de uma época em que tudo ainda estava sendo inventado. 

Após o fim, os caminhos seguiram em direções igualmente férteis. O’Meara voltou de Melbourne para se juntar ao Pel Mel, enquanto Turnbull cofundou o Wild West, grupo que também contou com Rae Macron Cru nos vocais.

O Voigt/465 permanece como uma joia escondida do pós-punk australiano não apenas pela sonoridade ousada, mas pela postura intransigente diante da indústria musical. Em tempos de transição, foram um ponto de ruptura. Um ruído necessário.

Discografia

Slights Unspoken (1979) 

"State" / "A Secret West" (1978)  Single

One Faint Deluded Smile CD (2001) Coletânea

sábado, 3 de maio de 2025

X-Beliebig

Formada no início dos anos 80, por Franz Heuschneider (vocais e guitarra),Günther Rettenbacher (baixo) e Ernst Weber (bateria).Com Guitarras ríspidas, percussões quase primitivas e letras carregadas de angústia e ameaça: assim era o som do X-Beliebig, banda que representou como poucas a face mais sombria da Nova Onda austríaca nos anos 80. Para muitos, eles foram a resposta da Áustria ao Joy Division, um trio que não apenas absorveu a estética pós-punk, mas a moldou com sotaque e contexto próprios, criando uma sonoridade inconfundível e visceral.

O X-Beliebig surgiu da cena alternativa de Viena, então fervilhando com influências vindas do punk, do krautrock e da eletrônica industrial. Seu álbum homônimo, X-Beliebig (1982), é considerado uma obra fundamental da Neue Deutsche Welle local, embora a banda estivesse sempre um passo à frente do rótulo. Com produção crua e um clima quase claustrofóbico, o disco trouxe um espírito inquieto e existencialista que ainda hoje ressoa nos ouvidos mais atentos. 

O single “Leben ist Blut” (“A Vida é Sangue”) destacou-se como um hino do subterrâneo europeu uma faixa marcada por sua intensidade lírica e estrutura minimalista, que fez sucesso entre os fanzines e rádios alternativas da época. Mesmo décadas depois, continua sendo um marco da contracultura sonora austríaca. Como bem definiu Martin Blumenau, respeitado jornalista da rádio FM4, “a melhor banda austríaca desconhecida da época”.

A banda se dissolveu por volta de 1983. Apesar da curta trajetória, o legado do X-Beliebig reverbera entre colecionadores de vinil obscuro e apaixonados pela estética dark do início dos anos 80. Suas canções dialogam com temas como alienação, corpo e política, antecipando inquietações que continuam pulsando no presente. A palavra “x-beliebig” significa, em alemão, algo como "aleatório", "qualquer um" ou "comum" uma ironia, já que a banda foi tudo, menos comum.

Discografia

O.Tannenbaum (k7) - 1981

X-Beliebig (1982) – LP

Leben ist Blut / Sehnsucht (1982) – single 7"

Coletânea

1980-1982 Complete Works   2015

X-Beliebig, Primary, 1 of 2

 

 

 





Tablewaiters

Ativa entre 1980 e 1986, a banda australiana Tablewaiters foi um daqueles nomes que, embora jamais tenham lançado um álbum completo, deixaram sua marca no submundo do pós-punk de Sydney. Formada pelo vocalista Graeme Synold e pelo tecladista Tony Ameneiro, ambos estudantes de arte na Alexander Mackie College of Advanced Education, o grupo logo se destacou pela sonoridade densa e performances intensas.

Após alguns ajustes iniciais na formação, a banda se estabilizou em 1981 com Gye Bennetts (ex-The Agents) na bateria, Ian Robertson no baixo e Ed Lee na guitarra, ao lado dos fundadores. Esse quinteto chegou a gravar um álbum, Gate, sob a produção do lendário Lobby Loyde, no estúdio Alberts em Sydney. No entanto, problemas financeiros impediram o lançamento do disco as fitas permaneceram em estado bruto, e algumas cópias piratas de baixa qualidade circularam com o tempo. O single planejado, “Between the Lines” / “Access”, também acabou engavetado. 

A banda era agenciada pela SCAM (Suss City Artist Management), responsável por outros nomes notórios da cena australiana como Sardine v, The Sunnyboys, Machinations e Local Product. O envolvimento com esse coletivo garantiu à Tablewaiters uma presença constante nos palcos, participando de turnês nacionais e abrindo shows para nomes consagrados como Simple Minds, The Psychedelic Furs, Split Enz, INXSA, Midnight Oil, Models, Eurogliders, Laughing Clowns, Hunters & Collectors e The Birthday Party.

Com a saída de Bennetts após as gravações de Gate, a bateria ficou a cargo de Phillip Hyrwka, também ex-The Agents. Em 1984, a banda lançou seu único registro oficial: o compacto duplo A-side “Scattered Visions” / “Small Quiet Children”, lançado pelo selo Powderworks Records & Tapes, com capa assinada por Ameneiro. As faixas capturam bem a estética melancólica e existencialista do grupo, com atmosferas sombrias sustentadas por sintetizadores marcantes e vocais dramáticos. 

No circuito local, o Tablewaiters foi figurinha carimbada em casas como Civic Hotel, Trade Union Club e Governor’s Pleasure, além de manter residências no clube Macy’s, em Melbourne. Com um som que flertava tanto com o pós-punk britânico quanto com o experimentalismo eletrônico, o grupo ganhou respeito entre músicos e público, mesmo sem alcançar projeção comercial.

Após a dissolução da banda em 1986, Tony Ameneiro seguiu carreira nas artes visuais, tornando-se um artista plástico reconhecido. Ed Lee mudou-se para Wollongong, onde tocou em diversas bandas locais, como ATE. Já em 1992, Lee e Ameneiro retomaram a parceria no projeto Chihuahua Chihuahua, lançando de forma independente um álbum homônimo. Gye Bennetts, por sua vez, seguiu em bandas como Johnny Kannis Band, Roddy Radalj and The Surfin' Caesars, Hitmen D.T.K., The Psychotic Turnbuckles e Klondike's North 40

Mesmo com uma discografia escassa, o Tablewaiters segue como uma peça intrigante do quebra-cabeça pós-punk australiano, um daqueles segredos bem guardados que o tempo transforma em relíquias sonoras. Um nome para se redescobrir nas entrelinhas da história subterrânea.

Discografia

Singles

"Between the Lines" / "Access by Invitation"  1981

"Scattered Visions" / "Small Quiet Children"   1984

Scattered Visions/Small Quiet Children, Primary, 1 of 4

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Essential Logic

Poucas figuras do pós-punk britânico são tão singulares quanto Lora Logic, saxofonista e vocalista que, após sua saída precoce do X-Ray Spex em 1977, formou a enérgica e cerebral Essential Logic no ano seguinte. O grupo surgiu em meio à ebulição criativa do final dos anos 70, misturando o ímpeto do punk com estruturas desconstruídas, dissonância, saxofones agudos e vocais nervosos em um som que desafiava tanto a lógica musical quanto os padrões da indústria.

Formada em 1978, a banda tinha em sua formação original: Lora Logic nos vocais e saxofone, Phil Legg na guitarra e vocais, William Bennett (que depois fundaria o polêmico projeto Whitehouse) na segunda guitarra, Mark Turner no baixo, Rich Tea (Richard Thompson) na bateria e Dave Wright no saxofone. Pouco depois, Turner seria substituído por Sean Oliver, que mais tarde integraria o Rip Rig & Panic, grupo que também flertava com jazz punk e improvisação radical. 

O primeiro lançamento da banda foi um compacto 7" lançado de forma independente, pelo selo próprio Cells. Logo depois, veio um EP homônimo pela Virgin Records em 1979, e, não muito depois, o grupo assinou com a icônica Rough Trade

O disco de estreia, Beat Rhythm News (Waddle Ya Play?), também de 1979, é um clássico oculto do pós-punk: frenético, sincopado, atonal, repleto de grooves nervosos, saxofones caóticos e letras que misturam crítica social com uma estética surrealista.

O álbum foi bem recebido por uma crítica atenta ao experimentalismo da época, sendo comparado ao The Raincoats, Pere Ubu e This Heat, embora Essential Logic nunca tenha obtido a mesma visibilidade. A sonoridade da banda influenciaria posteriormente artistas mais experimentais do pós-punk e do no wave, com seu flerte entre o jazz free-form e a energia punk. 

Durante esse período (1978–1981), Lora Logic também colaborou com outros projetos de vanguarda. Tocou com os Red Crayola, participou de gravações do grupo finlandês Kollaa Kestää, além de contribuições com The Stranglers, The Raincoats e Swell Maps, bandas todas alinhadas ao espírito de invenção que permeava a cena alternativa do Reino Unido.

Apesar dos experimentos e colaborações, a banda se dissolveu em 1980, antes que seu segundo disco fosse finalizado. As gravações seriam lançadas mais tarde como o álbum solo Pedigree Charm (1982), mantendo a assinatura sonora de Logic, mas já em outro contexto: pouco após o lançamento, ela abandonaria a carreira musical ao se envolver com o movimento Hare Krishna, optando por uma vida espiritual afastada dos palcos e estúdios. 

A volta só aconteceria em 2001, com uma nova encarnação do Essential Logic. Nessa fase, Lora reuniu ex-integrantes da banda ska Bad Manners e o guitarrista Gary Valentine (ex-Blondie), e lançou um EP com quatro faixas inéditas. Em 2002, outras quatro faixas, gravadas em 1998, foram disponibilizadas pelo site Vitaminic, uma plataforma de distribuição digital pioneira. Em 2003, foi lançada a antologia Fanfare in the Garden pelo selo norte-americano Kill Rock Stars, trazendo faixas clássicas, raridades e material solo de Logic.

Após anos de silêncio, Essential Logic ressurgiu novamente em 2022 com o álbum Land of Kali, uma obra madura, lançada pela Dome of Doom Records. Com uma sonoridade mais contida, mas ainda pautada pelo espírito iconoclasta de sua fundadora, o disco reflete influências espirituais e políticas, com destaque para a faixa-título, que critica o estado do mundo moderno sob uma lente esotérica e mística. 

Essential Logic, apesar de seu status marginal, permanece como um dos projetos mais ousados e excêntricos da primeira leva pós-punk. Ao lado de bandas como The Slits, Kleenex/Liliput e The Raincoats, foi fundamental para abrir espaço a uma abordagem mais livre, feminina e criativa dentro do rock alternativo e merece ser revisitado por quem busca autenticidade no caos.

Discografia / Álbuns de estúdio

Beat Rhythm News (Waddle Ya Play?)   1979

Land of Kali   2022

Rekalibrated   2024

Beat Rhythm News - Waddle Ya Play ?, Primary, 1 of 6

Party Day

 Glasshouse, Primary, 1 of 6

Formada em 1981 na cidade de Wombwell, nas imediações de Barnsley, South Yorkshire, a Party Day foi uma dessas joias soterradas do pós-punk britânico que, apesar do reconhecimento limitado, deixou um legado sombrio e visceral. 

Originalmente um quarteto formado pelos guitarristas Martin Steele e Greg Firth, o baixista Carl Firth e o baterista Mick Baker, o grupo surgiu das cinzas do projeto Further Experiments (ativo entre 1979 e 1981), adotando o nome definitivo e uma nova proposta sonora que os colocaria entre os segredos mais bem guardados da cena alternativa inglesa.

Com uma sonoridade descrita como "goth de punho fechado com tons de pós-punk", a Party Day lançou seu primeiro single de forma independente em 1983, através do selo próprio Party Day Records: "Row the Boat Ashore" / "Poison", que foi recebido com entusiasmo pela imprensa underground "um som encantador e delicado, de beleza singular", resumia uma crítica da época. 

O segundo single, "The Spider", mergulhava mais fundo no caos melódico, sendo descrito como “um excelente uivo punk de sucata” e conquistando espaço no influente programa de John Peel na BBC Radio 1. A crítica antecipava: “esperamos continuar vendo o grupo arrancar as raízes da indústria musical desolada e insossa”.

Em 1985, a banda lançaria seu álbum de estreia, Glasshouse, uma obra intensa e coesa, considerada sua declaração mais poderosa: “o que eles fazem, fazem com ardor absoluto”. O disco consolidava o estilo característico do grupo composições melancólicas, sim, mas impregnadas de veneno punk. 

O segundo álbum, Simplicity (1986), dava continuidade à estética emocional e crua do grupo, com faixas como Glorious Days, descrita de forma peculiar por um crítico: “a ovelha negra encantadora, ainda que ligeiramente exagerada... algo que poderia comover até os calções de Mario Lanza”.

Outra pérola da banda foi "Rabbit Pie", lançada na coletânea Giraffe in Flames do selo Aaz Records. A crítica da época foi enfática: “o destaque é o som encorpado e guiado por guitarras do Party Day... vale comprar a compilação só por essa faixa”. 

Com uma base fiel de fãs no norte da Inglaterra, a Party Day era presença constante em palcos como o Leadmill em Sheffield e no circuito alternativo de Leeds. Seu impacto ao vivo também foi registrado na imprensa: o Sounds descrevia o grupo como “uma locomotiva movida por uma bateria implacável”, enquanto a NME resumia: “eles seguram suas guitarras como se fossem AK47s... eles vibram”.

Após o lançamento de Glasshouse, Martin Steele deixou a banda por motivos de saúde, o que levou a mudanças na formação. Embora novos integrantes tenham sido recrutados, o grupo encerrou as atividades em 1988, deixando um terceiro álbum inacabado pelo caminho.

Apesar do fim precoce, a aura da Party Day permaneceu viva nas entrelinhas do underground. A banda foi destacada no livro "Gothic Rock" de Mick Mercer, e sua música continua reverberando em clubes e rádios alternativas. A faixa Atoms, por exemplo, foi incluída na compilação Strobelight Records Vol. 3 (2006), mantendo aceso o interesse pela banda. 

Em 2020, o som da Party Day voltou a aparecer em livestreams de DJs europeus no World Goth Day, como os sets de Benny Blanco e na Dark Wave Radio.Em 2021, celebrando 40 anos desde os primeiros ensaios em garagens de Wombwell, a Optic Nerve Recordings lançou Sorted!, uma antologia abrangente com todos os registros da banda, incluindo demos. Uma cápsula do tempo que comprova: o que parecia um passo da obscuridade rumo à consagração, hoje é um convite ao resgate de uma das bandas mais emocionantes do goth-punk britânico.

Discografia

Glasshouse (1985)

Simplicity (1986)

Sorted! (2021)

Singles

"Row The Boat Ashore" c/w "Poison" (1983)

"Spider" c/w "Flies" (1984)

Eps

Glasshouse EP (1985)

Music for Pleasure

Music For Pleasure, Primary, 1 of 4

Foi uma banda britânica, formada em Leeds, Inglaterra, ativa entre 1979 e 1985. Com uma sonoridade que mesclava elementos de post-punk e synth-pop, o grupo se destacou na cena alternativa do norte da Inglaterra durante os anos 1980. Fundada por Martin King (baixo), Alan Peace (vocais), Sean Wheatley (bateria) e David Whitaker (teclados). Inicialmente assinados com a Rockburgh Records, contribuíram com a faixa "The Human Factor" para a compilação Hicks from the Sticks (1980), que destacava bandas emergentes do norte da Inglaterra .​

Em 1980, ocorreram mudanças na formação: Alan Peace e Sean Wheatley foram substituídos por Mark Copson (vocais) e Christopher Oldroyd (bateria), este último ex-integrante da banda Girls at Our Best!. Com essa nova formação, lançaram os singles "The Human Factor" (regravado) e "Fuel to the Fire" (1981), produzido por John Leckie, pela gravadora independente Rage Records .​

Em 1982, Ivor Roberts substituiu Martin King no baixo, e a banda assinou contrato com a Polydor Records. Sob a produção de Mike Hedges, lançaram o single "Switchback" (1982), seguido pelo álbum de estreia Into the Rain (1982), co-produzido por Hedges e pela própria banda. Do álbum, destacam-se os singles "Light" (1982) e uma nova versão de "Time" (1983). Ainda em 1983, lançaram "Dark Crash", também produzido por Hedges. Apesar do reconhecimento, foram posteriormente dispensados pela Polydor .​

Sem contrato com grandes gravadoras, o grupo criou seu próprio selo, Whirlpool, pelo qual lançaram o single "Disconnection" (1984), co-produzido por Colin Richardson, o EP Chrome Hit Corrosion (1984), produzido por John Porter, e o álbum Blacklands (1985). Após o lançamento deste último, a banda encerrou suas atividades .​

David Whitaker, tecladista da banda, integrou o grupo The Danse Society entre 1985 e 1986. Christopher Oldroyd, baterista, participou do segundo álbum da banda Red Lorry Yellow Lorry, Paint Your Wagon (1987) .​

Apesar de não terem alcançado grande sucesso comercial, o som atmosférico e melódico do Music for Pleasure, influenciado por Kraftwerk e pelo krautrock, contribuiu para a diversidade da cena musical de Leeds nos anos 1980, uma cidade que foi um polo importante para o desenvolvimento do post-punk e do goth rock .

Discografia

Into the Rain (1982)

Blacklands (1985)

Eps

Chrome Hit Corrosion (1984)

Singles

"The Human Factor" (1980)

"Fuel to the Fire" (1981)

"Switchback" (1982)

"Light" (1982)

"Time" (1983)

"Dark Crash" (1983)

"Disconnection" (1984)