terça-feira, 15 de abril de 2025

Sombras nas Montanhas: O Pós-Punk Obscuro da Áustria Oitenta

 Wiener Blutrausch, Secondary, 2 of 12

Enquanto a Inglaterra chorava Joy Division e Berlim mergulhava no art punk glacial da Neue Deutsche Welle, a Áustria cultivava silenciosamente uma cena subterrânea pulsante. Nos porões de Viena, Linz e Graz, brotava um pós-punk dissonante, minimalista e encharcado de estranhamento existencial.Uma trilha sonora perfeita para enclausurar o alpino e a rigidez cultural de um país ainda preso entre o velho mundo e a modernidade.

Pouco documentada, essa cena se alimentou de fita cassete, zines xerocados e rádio pirata. Aqui, trazemos um mergulho na geografia sonora austríaca dos anos 80. Uma espécie de arqueologia de fita magnética com nomes que merecem espaço em qualquer coleção de obscuridades pós-punk.

Bandas e Artistas Pós-Punk Austríacos dos Anos 80:

Chuzpe

Provavelmente a banda pós-punk mais conhecida da Áustria nos anos 80. Começaram com influências punk e se voltaram para um som mais synth-punk e new wave, muito irônico e sarcástico. Canções como "Love Will Tear Us Apart" (cover irônico de Joy Division) e "Amore" os colocaram como cult dentro da cena.

X-Beliebig

Uma das bandas mais obscuras e respeitadas da cena vienense. Com uma sonoridade densa, minimalista e letras existencialistas, o som do trio lembra muito a linha mais fria do pós-punk europeu. O disco "X-Beliebig" (1982) é um clássico cult.

Monoton

Projeto de Konrad Becker, é uma das contribuições mais radicais da Áustria para a música experimental. Mistura de minimal wave, drones, loops industriais e repetição hipnótica. O álbum "Monotonprodukt 07" (1982) é considerado precursor tanto do techno quanto de formas experimentais de pós-punk.

Dämmerattacke

Formada em Linz, essa banda mesclava o pós-punk com NDW, synth e batidas eletrônicas secas. Letras em alemão com um senso de humor sombrio e absurdo.

Astaron

Duo feminino de darkwave/post-punk que soa como uma mistura de Cocteau Twins com minimal synth. Atmosférico, melancólico e assombrado. O disco homônimo Astaron (1987) é altamente recomendado.

Red Beat

Pouco conhecida fora da Áustria, trazia um som mais direto, com guitarras afiadas e vocal declamado, remetendo ao The Fall. Ativa nos primeiros anos da década.

Minus Delta T

Projeto performático e sonoro que oscilava entre o post-punk, a performance de arte e o industrial. Mais conhecido por seu conceito radical e ações ao vivo do que por álbuns.

The Vogue

Atuaram entre o punk e o pós-punk, com forte inspiração britânica e estética retrô 60s misturada a cinismo contemporâneo.

Schönheitsfehler

Misturavam post-punk, funk e política. Já surgem mais para o fim da década, com um viés mais ativista e experimental.

Plastix

Banda com pegada synth-punk, muito voltada à estética da Neue Deutsche Welle, mas com espírito provocador. Têm composições marcadas por teclados secos e batidas mecânicas.

Mini Sex surgiu em Viena como um dos projetos mais irônicos e provocativos da cena pós-punk austríaca. Misturavam new wave, synthpop e um humor ácido que zombava tanto da política quanto da cultura pop. Seu hit “Eismeer” é um

Camadas Mais Fundas do Subsolo:

Sprays : Post-punk direto, quase power pop sombrio, com letras sobre paranoia urbana. Uma pérola escondida.

Kaltfront : Mistura de coldwave com NDW, pouco documentada, mas presente em fitas e compilações raras

M.S.B. (Manisch Sozial Betroffen) :Nome diz tudo — uma banda expressionista e lo-fi, de estética caseira e letras perturbadas.

Total Control :Não confundir com os australianos: esse quarteto austríaco fez um som seco, direto, com ecos de Gang of Four.

Alone Together : Grupo que oscilava entre o gótico etéreo e o minimalismo synth, com vocal soturno e ambiências claustrofóbicas.

Mimikry : Punk eletrônico e pós-punk com camadas performáticas. Uma versão de Viena para os experimentos do DAF.

Redescobrir o pós-punk austríaco dos anos 80 é como sintonizar uma frequência fantasma — aquela que atravessa décadas em silêncio e reaparece como um sussurro nas frestas da história. Essas bandas, muitas vezes ignoradas até mesmo em sua terra natal, carregam uma urgência crua, uma beleza árida que parece feita para tocar em túneis abandonados, galerias de arte vazias ou rádios que só funcionam de madrugada.

Mais do que uma curiosidade de colecionador, essa cena revela a universalidade da inquietação pós-punk: ela brotou não apenas em grandes centros culturais, mas também em cantos periféricos, onde a alienação era sentida em alemão, em eco, em silêncio.

Na Áustria, o pós-punk foi menos um movimento e mais uma resistência sutil, feita de ruído, isolamento e fita magnética. E como toda boa resistência, permanece viva nas sombras, esperando o ouvinte disposto a escutar o que não foi dito em voz alta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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