Entre as inúmeras bandas que cruzaram os palcos universitários da Inglaterra nos anos 80, o Henry’s Final Dream talvez tenha sido uma das mais peculiares um grupo londrino de pós-punk que gravou apenas dois EPs pelo selo independente Eskimo Vinyl, mas deixou ecos suficientes para figurar entre os segredos mais bem guardados daquela era.
O nome da banda veio de uma combinação improvável e altamente simbólica: uma referência ao filme Eraserhead, de David Lynch, misturada a uma ilustração do livro O Homem e Seus Símbolos, de Carl Jung. Com essa bagagem conceitual, o som também não poderia ser óbvio.
Paul Morley, crítico da New Musical Express, os definiu como “art-pop agitado com sax envolvente... melodias arejadas, letras autoconscientes como um Undertones precoce, mas pretensioso. Um dia podem ser sublimes.” Já o fanzine NMX, de Sheffield, escreveu com certa irreverência: “Soam como os Distractions chapados demais para tocar direito e passados por um fuzz-box. Eu gosto muito.”
A formação surgiu entre estudantes da Polytechnic of Central London no final dos anos 70. Peter Millward, que assumia vocais, guitarra e composições, liderava a banda. Ao seu lado estavam Martin Pavey (baixo), Tiffer Breakey (bateria) e Gary Bryson (sax tenor, harmônica e vocais ocasionais).
O embrião da banda foi um clube de apreciação musical criado por alunos, cujo objetivo era arrancar um trocado do sindicato estudantil para financiar cervejas. Mas a brincadeira ficou séria quando perceberam que poderiam faturar mais levando seu som indie anárquico para palcos reais.
Com as 1 libra e 75 pence arrecadadas, entraram em estúdio no verão de 1980 para gravar o primeiro EP, Indian Summer. No início de 1981, veio o segundo lançamento, I Couldn’t Jump, que a revista independente Outlet, de Ilford, descreveu como “um tema assombrado com um solo de sax efervescente”. Já o St Alban's Review and Advertiser considerou o trabalho “divertido... acima da média em comparação com o punk rasgado que dominava a cena”.
Existe também uma raridade: uma gravação pirata do show do HFD no andar superior do lendário Ronnie Scott’s Club, em Londres, datada de 1981. Relíquia para os caçadores de obscuridades sonoras.
O destino levou os integrantes por caminhos distintos. Peter Millward vive em Hong Kong, onde comanda a Drum Music ao lado do parceiro Eddie Chung, e grava músicas sob o nome Celestial, que ele descreve com certa relutância como “asian dub”. Martin Pavey atua com produção musical e design de som no Reino Unido, Tiffer Breakey continua morando na Inglaterra, e Gary Bryson, agora jornalista e escritor, vive em Sydney. Seu romance Turtle foi publicado pela editora Allen & Unwin.
Na trilha das bandas que passaram rápido demais pelos holofotes, o Henry’s Final Dream permanece como um sussurro cult nos corredores do underground britânico com saxofone distorcido, sonhos fragmentados e canções que talvez nunca tenham querido ser hits.
Discografia
Indian Summer – EP (Eskimo Vinyl, 1980)
I Couldn’t Jump – EP (Eskimo Vinyl, 1981)
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