Ativa por um curto período entre 1980 e 1982, a SAV foi uma banda pós-punk baseada em Ealing, Londres, cujo único registro lançado em vida foi o álbum Love, Logic + Ego (1982). Pouco conhecida, a banda tinha um núcleo formado por Graeme Garlick (guitarra, vocais e composições), Hilary Dron (baixo e arte da capa) e Cyril Simsa (teclados). Apesar da origem londrina, os integrantes vinham de diferentes partes da Inglaterra: Graeme era de Manchester, Hilary de Liverpool e Cyril do norte de Londres.
O baterista David Jones foi recrutado exclusivamente para a gravação do disco, após a saída do baterista original. Curiosamente, nunca chegou a tocar ao vivo com a banda, embora entregue uma performance sólida em estúdio.
Como era comum no espírito DIY do pós-punk, apenas Graeme tinha formação musical formal. Hilary era artista plástica e trabalhava como assistente em instituições culturais, além de fazer trabalhos de design. Cyril era um escritor iniciante e fazia bicos no Museu de História Natural e na Biblioteca Britânica, foi lá, inclusive, que ele e Hilary se conheceram e decidiram formar a banda.
Hilary nunca havia tocado baixo antes, e isso se reflete em sua abordagem bastante melódica e inventiva — muitas vezes dialogando com os vocais em linha paralela. Cyril, por sua vez, apesar de ter tido aulas de piano na adolescência, utilizava um sintetizador monofônico Roland, que não permitia a execução de acordes.
O instrumento era usado para construir linhas melódicas e contra-melodias, com timbres cuidadosamente esculpidos e envelopes longos que se desvanecem aos poucos. Em algumas faixas, um velho piano elétrico foi incorporado como segundo teclado, preenchendo o fundo com acordes sustentados.
A gravação do disco aconteceu graças a um contato inesperado: a irmã de Cyril trabalhava com Leo Feigin, então renomado produtor de jazz e fundador do selo Leo Records, conhecido por sua veia avant-garde. Buscando diversificar seu catálogo, Leo apostou na SAV, mas as vendas decepcionantes fizeram desse seu primeiro e último flerte com a música pop.
Foi também ideia de Leo trazer Seva, um expatriado russo ligado ao selo de jazz, para adicionar saxofone em três faixas do disco. A produção ficou a cargo de "Kim Lambert", pseudônimo de um engenheiro de som da BBC que trabalhava de forma paralela e preferia manter o anonimato parcial. Uma curiosidade digna de nota: a faixa Conscience (Lado B, faixa 4) traz ruídos de festa que, na verdade, são gravações de um hipopótamo no Mzima Springs, sobrepostas com uso de sampler retirado de um disco de efeitos sonoros um uso surpreendentemente precoce e experimental para a época.
Infelizmente, a banda não resistiu muito além do lançamento do LP e se dissolveu ainda em 1982. Graeme e Hilary chegaram a se envolver em outros projetos musicais, mas sem maior repercussão. Cyril acabou se mudando para Praga, onde vive até hoje, atuando como editor. Hilary voltou para Liverpool e tornou-se professora de artes.
Graeme permaneceu em Londres. Love, Logic + Ego (1982) é um daqueles tesouros perdidos do underground britânico um disco que desafia definições fáceis e ecoa o espírito criativo e despretensioso do pós-punk em sua forma mais pura e pessoal.
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